quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cassiano Ricardo biografia, características e obras

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Cassiano Ricardo, poeta e jornalista, foi autor,
entre outros, de Martim Cererê

Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos 1895, e estudou Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro. Atraído desde cedo para as letras, aos 12 anos, fundou, em sua cidade natal, a revista "Íris", e quando estudante em São Paulo, "Panóplia". Mais tarde, lançou "Novíssima". Iniciou-se no jornalismo profissional no "Correio Paulistano", vindo a fundar ou dirigir vários jornais no futuro, entre eles "Anhanguera" e "A Manhã". Foi também editor, ensaísta, historiador, estudioso de temas sociológicos, pertencente à Academia Paulista e Brasileira de Letras.
Fez premiar o volume de Cecília Meireles, "Viagem", o primeiro livro de versos modernos que a Academia distinguiu.

Cassiano Ricardo estreou com "Dentro da Noite", aos vinte anos, e nessa obra já se utiliza de versos heterométricos, chega quase ao verso livre, e o seu clima poético é penumbrento, sombrio até, estando assim divorciado da norma parnasiana, ainda imperante.

Mas sua carreira poética começou mesmo pelo treinamento parnasiano. Depois de muito batucar versos rigorosos e obedecer teimosamente à disciplina da escola, enveredou pela experiência modernista, vindo a destacar-se na nova corrente, que a princípio não conquistara o seu aplauso, como um dos principais líderes das dissidências "Verde - Amarelo" e "Grupo da Anta".

Escreve então "Borrões de Verde e Amarelo" e "Vamos Caçar Papagaios", que são esboços, rascunhos, de "Martim Cerêrê" - uma peça clássica da poesia moderna brasileira, como disse Carlos Drummond de Andrade. Esse poema propunha uma visão épica da história pátria, exaltava o bandeirismo, buscava a mitologia nacional, vinculava-se à civilização cafeeira e à civilização industrial.

 É poema da terra e das grandes cidades, produto eufórico de um momento eufórico, de um instante de crescimento, de formação de uma consciência de grandeza. Cantava uma raça nova, produto da miscigenação, raça que fora anunciada pelos modernistas desde as primeiras horas do movimento e que deveria produzir um tipo especial de brasileiro - esse filho de todos os povos, que era feito de percentagem de todos os sangues - do branco, do preto, do índio e de todos os imigrantes.

 É canto nascido da crença na "democracia biológica", inventada, aliás, pelo próprio Cassiano Ricardo, ou seja, a democracia fundada na ausência de preconceitos de sangue. O poema engrandecedor dessa raça está em "Martim Cererê".

Cassiano Ricardo praticou um "full-time" artesanal que muito lhe enriqueceu o poder de expressão, a ponto de lhe permitir o domínio de vários processos de dicção poética, mantendo-se, porém, fiel à tradição da poesia brasileira que se situa nos polos extremos representados por D. Dinis e Fernando Pessoa. Cassiano Ricardo viveu, intensamente , a poesia e a vida brasileiras, os dramas do homem moderno, os acontecimentos históricos de seu tempo.

Atendendo à estes chamados de sua época, é que foi, primeiro, um contemplativo; depois um intérprete de anseios nacionalistas, animado de entusiasmo, ávido de luz e de cor; e, por fim, um radar sensibilíssimo do convulso e sombrio mundo contemporâneo. Ser poeta, para ele, é um atormentado ofício, que atualmente exerce sob forma interiorizado. Recolhida e depurada, fazendo seus versos, não apenas transferindo-os para o todo coletivo, de que é a voz ou o megafone.

Principais obras do escritor Cassiano Ricardo

Poesia:

Indômitus

Papagaio Gaio

Os nomes dados a terra descoberta

Coroa mural

Canção para poder viver

Relâmpago

A rua

A graça triste

O acusado

Desejo

A outra vida

Montanha russa

A medusa de fogo

Espaço lírico

Ficaram-me as penas

Rotação

Posições do corpo

A física do susto

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

Texto sobre Álvaro Pacheco

Ensaio 
- O Brasil no original (1936)
- O negro da bandeira (1938)
- A Academia e a poesia moderna (1939)
- Marcha para Oeste (1940)
- Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964)

Curiosidades sobre Cassiano Ricardo

- É formado em Direito
- Participou dos grupos modernistas “Verde Amarelo” e “Anta”, juntamente com Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros;
- Presidente do Clube da Poesia em São Paulo e foi reeleito várias vezes
- Muitos de seus poemas foram traduzidos para vários idiomas
- Aos 12 anos fundou a revista Íris
- Recebeu influências do Concretismo e Praxismo.

Principais características da obra de Cassiano Ricardo

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes. 
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas. 

Martim-Cererê, o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo. 

Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.

Sala de Espera

(Ah, os rostos sentados 
numa sala de espera. 
Um "Diário Oficial" sobre a mesa. 
Uma jarra com flores. 
A xícara de café, que o contínuo 
vem, amável, servir aos que esperam a audiência 
[marcada. 

Os retratos em cor, na parede, 
dos homens ilustres 
que exerceram, já em remotas épocas, 
o manso ofício 
de fazer esperar com esperança. 
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã. 
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre 
[adiados 
e sentados 
numa sala de espera.) 

Mas eu prefiro é a rua. 
A rua em seu sentido usual de "lá fora". 
Em seu oceano que é ter bocas e pés 
para exigir e para caminhar. 
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo. 
Rua do homem como deve ser: 
transeunte, republicano, universal. 

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros 
do que de si mesmo. 
Rua da procissão, do comício, 
do desastre, do enterro. 
Rua da reivindicação social, onde mora 
o Acontecimento. 

A rua! uma aula de esperança ao ar livre. 

Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947). 

O Relógio

"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos

Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."


Cassiano Ricardo
Fonte: www.algosobre.com.br
          www.jornaldapoesia.jor.br
          www.oficinaideiaseideais.blogspot.com.br

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